6.2.06

Eu sei que devia, mas não consigo

“Pô, fessora, por que não pode escrever chato na redação? Por que é que você escreveu aborrecido? Não é a mesma coisa? Que troço mais careta!”
Pois é, eu sou assim em relação à nossa língua—essa belíssima, riquíssima e expressiva Língua Portuguesa—bem careta, caretona, caretíssima! E o que é pior, não consigo fazer de conta que não sou. Fazer o quê? Afinal, sou literalmente do século passado.
Eu sei que devia incorporar a linguagem livre, criativa, rápida e moderna de nossos jovens_ e de alguns já não tão jovens assim_ mas, infelizmente para mim, não consigo.
Eu sei que devia dizer “que porra é essa, cara?”, mas não dá, e só pergunto: “o que é que está acontecendo aqui? Ou “o que foi que você fez?, ou disse?”. Assim, bem pouco criativa, bem careta.
Eu sei que devia perguntar “esta merda é tua?”, mas não posso e, caretona, sai a pergunta “isto é teu?, ou te pertence?" Desse jeito estranho.
Eu sei que devia avisar “nenhum filho da puta mete a mão aqui, falô?”, mas fico travada e, então, caretíssima, só sou capaz de dizer “por favor, ninguém mexa aqui”. Bem assim, reprimida, oprimida.
Eu sei que devia achar que o “passeio foi bom pra caralho”, mas não sai e, lamentavelmente, digo que foi fantástico, excelente, maravilhoso, uma delícia. Assim mesmo, antiquada, fora de moda, velha, sem a menor criatividade.
Finalmente, eu sei que devia saber que “se neguinho não sacar a porra desta paradinha aqui, vai dar uma merda do caralho e eu vou me fuder”, mas nem tento e assim, “caso este texto não seja bem compreendido, podem advir conseqüências adversas e eu posso ser severamente criticada ou sofrer sérias represálias” o que, convenhamos, será o máximo da caretice em tempos tão avançados e livres.
Rosa Maria Ferrão

Um comentário:

Oph DeUohl disse...

Seguindo a linha muderna:
e aí minha tia, foi 3kilo mexê na parada ou foi perrengue? A propósito, texto irado.

bjs.