9.12.11

Nem tudo o que brilha é joia



Rosa Maria Ferrão
Já reparou como a grande maioria de nós se deixa ofuscar pelo brilho das joias?
Pois é, entretanto o seu valor não é agregado ao objeto, isto é, uma joia, ou melhor, os materiais de que é feita não têm valor por si sós. Tanto é assim, que, quando o homem europeu pisou o rico solo do Brasil encontrou a melhor disposição dos nativos para entregar-lhes ouro e pedrarias, sem que soubessem bem o porquê do interesse, pois aquilo nada lhes dizia.
Também assim é com nossas vidas: atribuímos determinado valor a dezenas de coisas e depois passamos a agir como se elas tivessem intrinsecamente esse valor.
A importância dada ao poder, por exemplo. Cometem-se os maiores desatinos para alcançar uma posição de destaque social. Trapacear, mentir, roubar, trair, tudo é válido para se alcançar essa jóia do orgulho e da presunção.
Alcançado o objetivo, o indivíduo se sente um verdadeiro sol. Os outros passam a ser vistos como simples planetas que orbitam ao seu redor, dependentes de sua luz e calor, para sobreviverem. E esta situação os satisfaz, durante algum tempo.
Ocorre, porém, que os outros também anseiam por seu próprio brilho e, assim, esse astro-rei vive sob constante ameaça. Lutando, dia após dia, para manter o que conseguiu, esgota-se, física, psicológica e moralmente.
Cada um é visto como um usurpador em potencial de sua posição, dessa forma, desconfiança e falsidade instalam-se em suas relações, isolando-o do afeto verdadeiro.
Há os que valorizam soberanamente o dinheiro, móvel único de suas vidas, cujo objetivo é a riqueza. Para tanto, corrompem-se, prostituem-se, atropelam a lei e a ética e, mesmo quando isso não ocorre, destroem a saúde em detrimento da própria harmonia.
Para o usurário, no entanto, esse objetivo nunca é alcançado. Quanto mais dinheiro consegue, mais precisa ter. Qualquer prejuízo, por pequeno que seja, é um duro golpe a provocar desequilíbrio e ansiedade crescentes. Um círculo vicioso se instala e o indivíduo fica preso em sua própria armadilha.
Fortuna atrai parasitas como o mel às moscas, conforme é de conhecimento geral. Os poucos amigos sinceros, tendo que conviver com esse tipo de gente, acabam por afastar-se.
Assim, cercado por bajuladores interesseiros, caçadoras de dinheiro e escroques de todo tipo, o milionário padece, mesmo sem se dar conta, de profunda solidão.
Outra porta muito atraente é a que oferece glória, destaque. O sucesso brilha em letreiros de néon, as revistas estampam, nas manchetes, nomes em letras garrafais.
Embriagado, o idólatra da fama sente-se poderoso, invencível, quase um deus. No entanto, como em essência não passa de uma criatura humana, tem parco domínio sobre os caminhos que é levado a percorrer.
Glória e sucesso, embora retumbantes, são, cada vez mais, passageiros. Os nomes de hoje são rapidamente substituídos, em prol da novidade. E o que parecia eterno mostra-se mutável como a visão da lua em noite chuvosa.
Assim, esquecido, o indivíduo entrega-se, muitas vezes, ao desânimo, à apatia, aos diferentes desequilíbrios de ordem psicológica.
Nem tudo o que brilha é joia!
Poder, dinheiro e fama são estradas de brilho intenso, atrativas, envolventes. É preciso cuidado e muitíssimo equilíbrio ao percorrê-las, sem tolas ilusões e com a convicção de que, acima de todas elas, paira eternamente o ser imortal que reside em nós.