4.9.09

Pondo cor na vida


Há momentos em que a vida nos parece tão aborrecida, vazia e sem sentido que se tem a impressão de que tudo à volta ficou
cinzento...
monocromático
repetitivo
sem graça.
No entanto, uma vez que o mundo é todo colorido, percebe-se logo que essa é uma falsa impressão, fruto de uma visão íntima, subjetiva, e não uma realidade externa...
Sendo assim, cabe a cada um, e não ao mundo, dar um jeito nessa situação.
É preciso pôr um pouco de cor em nossa vida, mesmo que seja numa pequena parte dela.
A história particular não é um arco-íris? Ora, que novidade, a de ninguém é, ainda que se pense o contrário.
É necessário fazer um esforço! Esquecer a angústia, o desânimo, a preguiça, o medo, a revolta, a mágoa, a indiferença, o orgulho, a inveja, o ódio... Enfim, fazer uma limpeza completa nos sentimentos que tiram o brilho e a cor da vida!
É possível que, mesmo assim, ainda permaneçam algumas áreas cinza, mas, caso se insista em cultivar esses males, o futuro, com certeza, será completamente negro.

3.9.09

O tempo corre, mas as mudanças se arrastam


EÇA DE QUEIROZ

O escritor Eça de Queiroz (1845-1900) é uma referência literária em todo o mundo. Ele é o grande mestre do romance português moderno e certamente o mais popular entre os escritores de Portugal do século 19.
Na citação abaixo, temos traçado por Eça o perfil da sociedade portuguesa em 1871:
“ Aproxima-te um pouco de nós, e vê.
O país perdeu a inteligência e a consciência moral. Os costumes estão dissolvidos e os caracteres corrompidos. A prática da vida tem por única direção a conveniência. Não há princípio que não seja desmentido, nem instituição que seja escarnecida. Ninguém se respeita. Não existe nenhuma solidariedade entre os cidadãos. Já não se crê na honestidade dos homens públicos. A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia. O povo está na miséria. Os serviços públicos vão abandonados a uma rotina dormente. O desprezo pelas idéias aumenta em cada dia. Vivemos todos ao acaso. Perfeita, absoluta indiferença de cima para abaixo. Todo o viver espiritual, intelectual, parado. O tédio invadiu as almas. A mocidade arrasta-se, envelhecida, das mesas das secretarias para as mesas dos cafés. A ruína econômica cresce, cresce, cresce... O comércio definha. A indústria enfraquece. O salário diminui, O Estado é considerado na sua ação oficial como um ladrão e tratado como um inimigo.
Neste salve-se quem puder a burguesia proprietária de casas explora o aluguel. A agiotagem explora o juro.
De resto a ignorância pesa sobre o povo como um nevoeiro. O número das escolas só por si é dramático. O professor tornou-se um empregado das eleições. A população dos campos, arruinada, vivendo em casebres ignóbeis, sustentando-se de sardinha e de ervas, trabalhando só para o imposto por meio de uma agricultura decadente, leva uma vida de misérias, entrecortada de penhoras. (...) Apenas a devoção perturba o silêncio da opinião, com padres-nossos maquinais. (...)
E a certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências. Diz-se por toda a parte: "o país está perdido!". (...) e que se faz? Atesta-se, conversando e jogando o voltarete, que de norte a sul, no Estado, na economia, na moral, o país está desorganizado - e pede conhaque!”